Multiplas Vozes.



Sobre a Ação

Iniciar processos…Uma exposição do tema da ação deve partir da consideração deste aspecto! A ação é a única das atividades humanas com o poder de iniciar algo novo. O labor é repetitivo, desdobra-se em um curso rotineiro, no qual nenhum momento se destaca. O trabalho é organizado com o objetivo de obter determinado resultado-um produto. Suas etapas se sucedem em uma ordem progressiva e previsível.



No domínio da ação, cada acontecimento tem um caráter inaugural. A ação provoca o aparecimento não de um quê mas de um quem – a personalidade de alguém. Agir tem o poder de revelar a individualidade. Esta não coincide com as habilidades, as riquezas ou a posição social de um indivíduo, mesmo que, muitas vezes, nosso vocabulário nos induza ao equívoco de dizer o “quê” alguém é. A identidade de uma pessoa transcende tudo o que ela possa fazer ou produzir – esse é um elemento indispensável da dignidade humana.



A visibilidade de quem age depende da presença de outros agentes, isto é, da existência de uma teia de relações. A ação só se realiza em um contexto de pluralidade. A ação é a mais fugaz das atividades e, paradoxalmente, é a que mais pode se prolongar. A fugacidade tem a ver com o caráter instantâneo da ação, e sua longa duração com o fato de que a iniciativa de um agente repercute sobre as ações de muitos outros.



A ação, por ser instantânea, abre uma brecha no curso ordinário dos acontecimentos. Através dela, o Presente irrompe, e uma revelação ilumina a face de um “quem”.

Trechos extraídos de A Duas Vozes: Hanna Arendt e Octavio Paz, org. por Eduardo Jardim. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

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